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Enquanto ler o jornal virava malabarismo, segurando as páginas retorcidas pelo vento, o cheiro de mar que ele trazia me descabelou até o ponto que só se fica quando ninguém nos vê – ou até que não enxergamos mais coisa alguma. E assim descomposta e exposta no biquini antigo, esta era a última coisa que eu esperava ouvir, quando vi o cara da barraca de bebidas vindo na minha direção:
– Oi. Não me leve a mal, mas você me passa o seu telefone?
Nenhuma insinuação, só a honestidade seca de um pedido direto.
Pele queimada, ginga de surfista envelhecido, depois de já ter perdido o último fio de cabelo parafinado. Ele realizou o que muitos, como eu, sonhamos em fazer um dia: foi vender coco na praia. Com o tempo, expandiu o negócio até chegar à caipirinha de vodca e o suco de abacaxi com leite condesado.
E descomplicadamente assim, como a vida tem o direito de ser, ele se agachou bem ao lado da minha cadeira de plástico e me pediu o telefone. Sem sinal de pudor, como alguém que se aproxima da mesa vizinha apenas pra perguntar se a cadeira do canto está livre – antes de arrastá-la para longe.
Neguei o número, mas agradeci, comovida. E continuo grata, por lembrar como as coisas podem ser simples, apesar do nosso esforço pra complicá-las.
Marcelo Yoneshima disse:
gostei da reflexão.
e bom gosto o dele.
Cris disse:
valeu pelo comentário! :)
Mariana Desidério disse:
Devia ter dado o telefone =)
Cris disse:
devia, né?! perdi! rs